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Mantra III


Não dá pra listar tudo aquilo que eu posso acreditar.
Eu acredito na volta dos militares
apesar da familiaridade,
da facilidade, da memória...
Eu acredito nesses e outros terrores.
Eu acredito em genocídios piores.
Eu acredito na estupidez humana.
Os desastres que são acreditados são menores
do que os créditos da minha tragédia imaginada.
Eu acredito no heroísmo da vontade
e em salvadores e ascetas.
Eu acredito em milagres e invisibilidades.
Eu acredito que há espelhos virados para dentro
e nos vinte e dois arcanos maiores.
Eu acredito no caminho óctuplo, nos sete pecados, e nas capitais do mundo, nas fronteiras e linhas imaginárias e no poder das palavras.
Eu acredito nas diferentes culturas
que se tornam a mesma
quando demolidas até o átomo.
Eu acredito em tudo.
Eu acredito nas vindouras explosões– aqui, ou no coração das estrelas.
Eu acredito que crio sigilos,
que estão comigo em algum abismo
enquanto eu tô caindo.
Eu acredito que o sonho não é apenas um lugar
e que meus personagens estão me esperando por lá.
Se for pra morrer, quero estar de olhos abertos, mas sem dor.
Se houver apocalipse, quero abrir a camisa e o peito 
e esperar no telhado pelo fogo.
Eu quero oferecer minha coxa como almoço para o tigre
quando estiver em meditação
apenas porque posso dominar essa escolha.
Eu acredito que estive nas discussões
mas inexisti nas ideias.
Eu tenho crédito a ser cobrado, 
eu tenho débito com amores 
e favores a prestar.
Eu tenho acreditado em tudo.
Eu acredito no sonho que tive sobre o mundo
e que estou a caminho do julgamento.
Eu acredito na magia e no movimento.
Eu acredito que não estou aqui.

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