Esta poesia foi inspirada na Divina Comédia À mão agourenta cuja torpeza faz do meu fôlego um sobressalto da manada, que entre a sístole e a diástole, finca-me profundo um espinho certeiro, a ela entrego minha alma. Entrego minhas lembranças tecidas em um pano roto, minha leveza de vida em um sopro, entrego-me inteiro, com duas moedas ao barqueiro. Age ligeiro, condutor do peso moral de um morto, e me leva ao julgamento - de ser fincado nas mandíbulas da ave de rapina em um tempo que cada segundo atropela o outro em um recomeço, ou me leva à sentença que afasta de mim os abutres finais e me dá a alforria para um último vôo, como se fosse meu nome Orfeu, Fausto, Virgílio, ou Prometeu.