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Meus dedinhos

   Onde estavam meus dedinhos ficou uma marca de agarrão. Eles agarravam o outro pulso, que tremia todo, até a carteira. Era minha hora de levantar e mostrar a cara e o jeito torto de andar até o centro da sala-de-aula e recitar um poema. Mas eu estava trêmulo e nervoso. 
   A mão direita largou o outro pulso, a mão esquerda soltou a carteira, e sob comandos da professora, me levantei. Meus dedinhos que seguravam a carteira encontraram meus dentes e comecei a roer as unhas. O sacudir se espalhou pelo corpo enquanto fitava os olhos tétricos da professora; eles estavam pesados atrás do óculos de gatinho com armação transparente. Ela achava que lhe dava um ar juvenil. Na verdade lançava sombras pela testa que pareciam chifres. Ela estava alarmada.
   - O que você fez?!
   O calor líquido se espalhou pelas minhas pernas como mercúrio. Não só leve, mas veloz e quente, quente, muito quente. Assim como meus dedinhos. Os pingos escarlates no chão indicavam o caminho de volta ao lugar onde eu tinha roído não só as unhas, mas três de meus dedinhos. 
Agora eles estão
no caminho de
outro poema

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