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Mãos

Quando era um bebê
a humanidade estendeu o braço
para tocar a realidade -
segurou o dedo do pai
tocou o rosto da mãe
e ainda precisava se segurar.
Precisava tocar e se perguntar
"será se isso é real?"
Tinha que se apoiar
e estava sempre em desequilíbrio.

Quando era jovem
a humanidade estendia o braço
para o cigarro, pras ferramentas e pro pecado.
Ainda caía, mas já sabia como fazê-lo.
Também gostava das artes -
e com suas mãos enfileirava letras, jogava pigmento, usava a espada,
ou regia um concerto concreto
na escultura,
além de massagear o próprio ego.

No cair da noite a humanidade usa os dedos nas teclas de piano
e escreve cartas para os falecidos.
A humanidade conta as contas no terço
ou as horas apontando para o ponteiro
enquanto ronda a casa sozinho.
Nessa idade ela estende o braço
pra agarrar-se à realidade antes que caia,
mas sempre esteve caindo -
esteve nas mutações do tempo,
boiando no leito do rio cega para fonte ou foz
apenas presenciando os segundos.
Quando pára de pensar no que vem
ou no que já foi concluído,
a humanidade abre a mão.

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