Às onze horas da
manhã a TV começou uma musiquinha deliciosa, e a mosca marcou o tempo acertando
a cabeça na janela de vidro da cozinha. Os cachorros-quentes ficaram prontos. A fanfarra ritmou gotas de chuva num dia
de sol. O começo de uma sinfonia cujo nome é verão. Havia chegado a estação de
cheiros e de animais minúsculos marchando sob as folhas do jardim. O almoço
estava pronto, e as crianças estavam na sala assistindo a um desses desenhos
animados de bichos, onde o mais gordinho deles tropeçava ao som de tubas e
trombones, atrapalhadinho, igual os filhos de Sarah.
Quatro, cinco e
sete anos. Jéssica, Lucas e Alice, com as cabecinhas próximas à televisão. Só
saíram do transe quando o cheiro de molho de tomate preencheu o ar. O ritmo era
marcado pela mosca como um metrônomo, harmônico como a transição de cores no
arco-íris e confortável numa manhã de chuva em família.
A estação de cheiros e luz. De alegrias, de brincadeiras e descobertas. E de loucura.
A estação de cheiros e luz. De alegrias, de brincadeiras e descobertas. E de loucura.
Com um movimento
vermelho, a maestra finalizou a sinfonia num tom trágico. A vida escapara,
finalmente, dos corpos das criancinhas. Surpresa com a volta de um velho
hábito, Sarah se sentou e comeu um cachorro-quente. Beijou os corpos vazios dos
filhos e, descompassada, eliminou com a tensão de todos os dias os barulhos de
insetos, desenhos animados e trombones. Sorriu enquanto esperava a chuva acabar.
Cavar o quintal seria mais prazeroso embaixo da luz plena do verão.
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