Eu estou no tempo, nem perdido nem achado.
Tô navegando e compondo o momento.
Estou contemporâneo, conectado, recarregado e sem fio
Colhendo informações de uma rede como o pescador tira peixe do rio.
Estou ali e também em uma nuvem, num banco de dados.
Tô concentrado em um chip de grafeno,
situado a oito minutos da minha fonte de luz.
Estou monografado, citado, citando e estou morrendo.
Fui enquadrado sem carteira, sem vergonha, mas remunerado.
Hoje em dia nem isso. Tempo difícil.
Sou um homem moderno, no tempo;
homenageando meus ídolos em redes sociais,
travando guerras em vídeos e despejando fúria em podcasts.
Fui linkado em um hypertexto, sou pretexto para stalkers
e sofro de depressão, estresse pós-traumático, e não tenho um segundo a perder.
A verdade está lá fora, mas eu estou aqui dentro,
no templo do entretenimento.
Vivo no cinema, mas assisto o que quero on-line.
Presto tributo à pornografia, à Wikipedia
e gosto do que é ruim só pela ironia.
Sou um Hippie cibernético na mesma medida que um hipster,
mas minha alma não foi aprisionada no dia-a-dia por foto de comida.
A diástole é zero, a sístole é um
um código binário que um dia finaliza a contabilidade dos dias
expostos e definidos por códigos e estatísticas.
Sou um homem moderno.
Estou sendo taxado, avaliado, contatado com um currículo engavetado
e com o cu na reta, pois vi no Google:
Os Estados Unidos estão vigiando e eles tem drones,
e eu, quando acordar de sonos intranquilos,
talvez tenha me transformado no meu pior inimigo:
Uma gravata.
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