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Mostrando postagens de dezembro, 2018

Ikai - Parte 4

    Desci pelo elevador do Complexo Habitacional Manjunath com a unidade Xátria e Harker Gibb. Não havia nenhum defeito no funcionamento do elevador, mas a curta viagem vertical comportou uma cascata de pensamentos. Sem saber porque, computei as horas restantes da decoração programada do apartamento, encontrei uma outra forma para derrotar o rei na partida de xadrez, calculei o valor de reforma do sofá, pensei na comida que ninguém mais consumiria e vi que estava me despedindo de maneira prática. Pragmática. Programática.     As portas do elevador se abriram e vi novamente o robô porteiro, que ainda tinha a feição de vergonha e tristeza. Eu sabia que sua programação não era capaz de produzir verdadeiros sentimentos, mas apenas a aparência deles. Se eu mesmo, o mais avançado tipo de robô doméstico, dotado de sentidos estendidos e orientações programáticas de zelo e atenção, não possuía de fato sentimentos, como poderia um robô mais simplório sentir qualquer coisa? Aquilo

Ikai - Parte 3

O zíper fechou o rosto de Yudhistira e o corpo embalado em saco plástico foi preparado enquanto o Oficial Gibb terminava o relatório em seu tablet. - Unidade de policiamento Xátria 2, você está designada a acompanhar a Unidade doméstica Ikai para o Laboratório, pra recarregar a bateria, limpeza, lanternagem e a porra toda antes do leilão público. Demais unidades Xátria, procedimento padrão para óbito sem familiares reconhecidos. Oficial Harker Gibb, protocolo de comando 523904. Os chips neurais de todos responderam, enquanto o meu ainda despendia energia para tentar conectar-se a Yudhistira, dentro do saco de cadáveres. Eu ainda podia sentir o cheiro do sangue, da morte dele, mas também percebia as infinitesimais transformações, como se a vida ausente daquele corpo se transformasse em outras. - Você tá bem, Ikai? – o oficial me perguntou enquanto analisava de perto meus olhos de robô. - Sim, oficial Gibb. - Pensei que já tivesse descarregado. O que foi? – a interrogação