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Mostrando postagens de fevereiro, 2019

Gramática

Você não sai não fala não joga nada não sorri. Você é um saco só passa a vida nos segundos repetidos seguindo com os olhos o que as pessoas fazem mas você nem sabe o que é que deveria fazer. O problema dos verbos é terem sido verbalizados por sujeitos que transitam entre fenômenos para dar-lhes nome e objeto quando a verdade da semântica é oculta e indeterminada. Você não é não fala não ri não pensa nada. você só é um tecido de linhas de gramática.

Ikai - Parte 6

       A confusão da doutora ficou evidente por seus olhos, que foram de um lado ao outro em seu escritório. Ela estava sentada em uma cadeira confortável e eu estava reclinado num divã. A encenação era para ela, mas com certeza eu estava sendo analisado. Ela queria ter certeza que eu tinha emoções; uma certeza que eu apenas acabara de adquirir, mas meus olhos não iam de um lado ao outro como os dela.    - Poderia explicar, Ikai?    - Creio que será confuso, doutora.    - Eu aceito o desafio – ela deu um gole de chá e pousou a xícara na mesa, decidida. Seus olhos se fixaram diretamente nos meus.    - Doutora, os humanos possuem espírito?    - Peraí Ikai! Você não disse que ia ser  tão  confuso. Além do mais, nosso assunto não são as pessoas.    - Eu prometo que a metáfora fará sentido.    Ela me fitou sobre os óculos e deu mais um gole de chá, dessa vez mais longo. O calor embaçou de leve as lentes.   - Bom, Ikai, Como uma cientista eu sou obrigada a fornecer uma re

Ladrilhos

Espero que minhas palavras não te façam se sentir violado. Apenas verdadeiro. Quando abri os olhos, a única verdade visível era que eu estava deitado no assoalho, porque todos os outros detalhes estavam borrados. Olhei para os lados. Não consegui virar a cabeça, apenas um pouco os olhos para os quatro cantos daquele quarto. Só então os outros sentidos começaram a me invadir. Enquanto percebia que estava mais próximo à uma parede, e amarrado ao chão, também fui assaltado por outra verdade. E a violência dela tinha acontecido comigo. Nunca peçam pela verdade. Eu estava sangrando. Eu estava amordaçado, pinçado ao chão como uma mariposa no quadro de um colecionador. Os outros sentidos me assaltaram com vários cheiros metálicos e de dejetos. Não. Poupemos a educação. Cheiro do meu cu todo cagado e dilacerado por qualquer instrumento rural. O outro sentido era o terrível zumbido de moscas que pousavam nas minhas feridas abertas e na merda se espalhou infectando os meus órgãos abdominais