Às quatro e trinta da manhã Seu Constantino já estava de pé, arrastando os chinelos no assoalho de madeira e indo de um lado pro outro, como seus pensamentos. Seus dentes estavam num copo d’água, e por isso ele não roia as unhas. Não era tanto nervosismo o que ele sentia, mas uma estranheza, como um viajante que acorda num quarto diferente. Neste caso era verdade, pois estava depositado no asilo como uma economia de família, um valor esquecido num banco de gente. Na noite anterior o enfermeiro havia explicado que os residentes gostam de preparar uma festa de boas-vindas para os novatos. Seu Constantino odiava festas de velhos. A única diferença entre sentar-se sozinho no quarto, ele pensava, era que na festa toda aquela gente velha se reunia num mesmo cômodo, mas estavam sozinhos. Era constrangedor. A experiência de oitenta e sete anos lhe ensinou que nessas ocasiões, a maioria ficava calada, parada, dormindo. Às vezes alguém colocava um Cauby Peixoto “pra dar uma animada”. Não f...